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06 dezembro 2012

Filmes e Teatros Brasileiros: Cadê as legendas????


Quando alguém me pergunta se conheço algum filme brasileiro, serei puramente sincera com vocês, não conheço desde a minha a adolescência! Digo isso porque quando eu era criança assistia os filmes da Xuxa e dos Trapalhões e meus parentes sempre me ajudavam passando pra mim o que os personagens diziam! Só que hoje gosto de ver filme por si só, mas enfim, triste a minha realidade não!? Se Já vi ou conheço alguma peça brasileira, minha resposta é: NÃO!

Notaram como é pobre a minha bagagem cultural do cinema e teatro brasileiro? Olha, eu sou MEGA FÃ de filmes estrangeiros independentes, conheço mais filmes italianos, alemães, mexicanos, londrinos, especialmente os filmes do meu direito preferido Pedro Almódovar, que qualquer outra pessoa nesse mundo. Tenho um canal em casa, o 78 MAX, que só passa filme estrangeiro de todas as nacionalidades, e nesse canal passa filme brasileiro, mas adivinhem? Não tem a #@#$%%¨ da legenda!!!!!

E eu sei que existem muitos filmes brasileiros, desde a época de 80 até a atualidade, que são muito bons, e quando é lançado um filme brasileiro nos cinemas sempre faço aquela pergunta: POR QUE DIABOS NÃO TEM LEGENDA? Como uma deficiente auditiva como eu vai entender, não quero ficar dependendo de alguém como uma espécie de intérprete oral no cinema, nada mais irritante que ser dependente!

Várias pessoas já me convidaram para ver uma peça de teatro brasileiro, eu vou logo recusando o convite, não tem como gente, é muito difícil, não é porque não goste é porque ficar num local que você não vai aproveitar é MUITO MUITO CHATO.

Eu fiz uma busca no Google hoje assim: Por que os filmes brasileiros não tem legenda? A resposta foi: Vários sites falando sobre pesquisas que o povo brasileiro prefere filme dublado, e eu: Bom...Bom.. (Minha cara de frustração)

Procurei mais um pouco e achei um site conhecido, esse aqui: http://www.legendanacional.com.br/abaixo.php, o Slogan desse site é muito legal: LEGENDA PRA QUEM NÃO OUVE, MAS SE EMOCIONA! É exatamente isso, preciso me emocionar com os filmes e teatros brasileiros, mas preciso de LEGENDA, A SANTA LEGENDA!!

Neste site você encontra um abaixo assinado (http://www.legendanacional.com.br/abaixo.php) que faz parte da campanha para que seja concretizado o Projeto de Lei nº 1.078/2007, do Deputado Federal Pernambuco Maurício Rands, a aprovação dessa proposta fará com que filmes e teatros brasileiros sejam obrigados a colocar legendas em português e no site você encontra várias informações acerca do tema e do andamento da campanha! E por fim, quero é dar meus parabéns a essa maravilhosa campanha de acessibilidade! :D

Pra quem gostaria de conhecer mais sobre a Lei Lei nº 1.078/2007, do Deputado Federal Pernambuco Maurício Rands aqui está o Link: http://www.legendanacional.com.br/PL1078de2007.pdf.

E mais uma coisinha, espero que façam seu abaixo assinado! Beijos!

18 outubro 2012

Aconteceu comigo: A triste realidade do mercado de trabalho para o deficiente auditivo.


Primeiro, sou deficiente auditiva neurossensorial profunda em ambas as orelhas e não consigo ouvir pelo telefone.

Por que estou falando sobre isso?

Ano passado enviei meu currículo para uma empresa particular (um banco), coloquei todos os dados, que sou deficiente auditiva bilateral profunda e, inclusive, que a única dificuldade que encontro no trabalho é atender telefone e falar com várias pessoas ao mesmo tempo. E num é que Segunda Feira (15/10/2012) a empresa liga pra casa, e a mamãe atende, disseram que estão precisando de um deficiente auditivo para prestar serviços importantes, minha Mãe fala: Mas minha filha não atende telefone, apenas e-mail, SMS. A empresa retrucou e disse: Mas precisamos de alguém que atenda telefone, e disse que infelizmente não poderão contratar, pois eu não estou nos requisitos que eles precisam...

           A moral dessa história é: Se eu deixei bem claro no currículo que NÃO ATENDO TELEFONE, mas a mesma insistiu em ligar e soltou uma pérola dessas, quer dizer, para a empresa não existe OUTRA ALTERNATIVA  a não ser, somente, ATENDER TELEFONE para resolver os serviços? Essa empresa NÃO ESTÁ PREPARADA para abrigar um deficiente no seu mercado de trabalho e antes de ligar para minha casa precisam PENSAR DUAS VEZES...

Eles querem um deficiente auditivo que atenda telefone (sim, eles existem), porém existem pessoas com deficiência como a minha que sofrem uma grande perda auditiva e só conseguem comunicação por leitura labial, uma pena que a empresa (não falarei o nome, mas é um banco importante) não conheça as limitações, pessoas como eu precisam trabalhar e ter um salário digno e que o ambiente de trabalho esteja ADPATADO com a sua deficiência, e a realidade que encontramos é essa!

O lado bom disso tudo, é que eu passei no Concurso Público, logo, estarei trabalhando no campo que eu amo, como Bióloga.

E como fica a situação de outros deficientes auditivos com a mesma perda da minha? Enfrentando esse difícil mercado de trabalho que não mostram outras ferramentas de comunicação que não seja o TELEFONE? Há muitas, a tecnologia está aqui pra isso, é uma pena, muita pena mesmo, que esta empresa não tenha encontrado isso. Triste realidade!
Abraços!

23 julho 2012

Denúncia contra o Concurso Público do Amapá: a velha história entre Língua Portuguesa Versus LIBRAS.


Em primeiro lugar, não estou atacando o direito dos surdos que moveram a ação contra o Concurso Público da Educação do Estado do Amapá promovido pela Fundação Universa no dia 14 e 15 de julho de 2012, sei que posso ser criticada por colocar minha sincera opinião. Vou citar minha colega Só Ramires do Blog SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa):

“Não sou contra o uso de LIBRAS, mas sim faço questão de lembrar que esse recurso não promove educação de todos os surdos.”

Quando me deparei com essa notícia, pensei muito de que maneira colocaria no meu Blog sobre isso, afinal, é um assunto muito delicado, concordo com Só Ramires, só para eu não queimar a língua do por quê não concordar com algumas coisas, deixarei algumas considerações aqui:

Eu prestei concurso para Fundação Universa dia 23 de Junho de 2012, eu coloquei que era uma pessoa com deficiência, que fazia leitura labial e não fazia o uso de LIBRAS, no dia da prova, cheguei lá e tinha duas fiscais, e fiz a prova tranquila e sozinha sem depender de ninguém, eu não precisei que eles traduzissem toda a prova pra mim, afinal, eu sei Língua Portuguesa e faço o uso dela diariamente na minha vida, e também ia fazer esse concurso da Educação, mas acabei não me inscrevendo porque não tinha pra minha área, e cá entre nós, eu não estaria incluída na luta deles, com todo meu respeito, porque eu não sairia prejudicada por falta de um bom e vários intérprete de LIBRAS e este não ter TRADUZIDO a prova direito.

Eu fiquei pensando aqui, eles querem que traduzam todo o texto da prova, então eles não sabem português? Isso mesmo, fiquei indignada com isso, afinal, eu creio que nossa primeira língua deveria, sim, ser o português e depois LIBRAS, e esta torna-se opção de cada um. E ainda coloco, eles não estão errados em processar, afinal, a educação passada a eles foi baseada nas LIBRAS e a Fundação Universa errou ter colocado apenas um intérprete pra muita gente ,falta de uma sala só para eles e fora o uso de câmeras, portanto, é um direito deles e está na Lei. 

Agora, pensei o seguinte, acho um exagero querer cancelar o concurso, muita gente sairá prejudicada, todos os concurseiros sabem português, inclusive, outras pessoas com deficiência, e não deixo de enfatizar, quem leva a culpa disso tudo são os profissionais que pregam a todo custo que surdos deveriam aprender APENAS LIBRAS e não dando opção a eles de aprenderem português, pelo menos, ler e escrever.

Abaixo a reportagem sobre o ocorrido:

Fonte: Portal Amazônia (20 de julho de 2012).
A denúncia foi feita por deficientes auditivos que se sentiram prejudicados
http://www.portalamazonia.com.br/editoria/wp-content/themes/editoria/imagens/icon-escrito.png Redação - jornalismo@portalamazonia.com
MACAPÁ – A Promotoria de Justiça e Cidadania notificou nesta quinta-feira (19), a Fundação Universa, responsável pela realização do concurso da educação ocorrido no último fim de semana, por descumprimento a Lei 10.436/2002 que garante a inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras) nas esferas municipais, estaduais e federais como meio legal de comunicação e expressão de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria.

A denúncia foi feita por 34 candidatos com deficiência auditiva que se sentiram prejudicados pela maneira como a prova foi aplicada. Os denunciantes relataram que na sala em que fizeram prova havia só um intérprete de libras que demonstrou despreparo e, ainda, não traduziu todo o texto da prova, alegando que não podia. Eles também reclamaram de câmeras direcionadas somente a eles.

Para os deficientes auditivos, o constrangimento sofrido dentro da sala de provas prejudicou o desempenho de todos os candidatos que precisavam de um tradutor de libras capacitado e que desenvolvesse seu papel adequadamente, conforme está previsto na Lei.  Ainda segundo a denúncia, a Fundação Universa não se preocupou em reservar de forma organizada uma única sala para todos os não ouvintes fazerem a prova.

De acordo com o promotor de justiça Pedro Leite, após receber a notificação pedindo esclarecimento do ocorrido, a Universa tem dez dias, prazo estipulado por lei, para encaminhar resposta à Promotoria de Justiça. Com base na justificativa da Fundação e se for confirmado os itens que constam na denúncia e que infringem a lei, a instituição será obrigada a aplicar uma nova prova para os candidatos que foram prejudicados.

Caso a Secretaria Estadual de Educação e a Fundação Universa se recusarem a aplicar uma segunda prova para os candidatos prejudicados, o concurso poderá ficar inválido para todos que participaram do processo seletivo. Isso ocorrerá se os deficientes auditivos ingressarem com uma ação civil pública pedindo anulação do concurso na Justiça.



19 julho 2012

Surdos Oralizados: Nós Existimos!


Que Saudaade do Blog, é pouco visitado, mas daqui a um ano será novamente conhecido, a culpa é toda minha, não tenho muita paciência para mexer nesse abandonado! Rsrsrs. Como sempre deixo claro, meu blog é exclusivamente pessoal, igual um diário, então escreverei aqui uma coisa bem legal, para os leigos!

Em primeiro lugar não somos uma nova raça e nem cultura, estamos completamente inseridos na sociedade “ouvinte”, somos independentes, falantes, a maioria não sabe LIBRAS, alguns são bilíngues (LIBRAS e oralizados), fazemos leitura labial, usamos aparelhos auditivos, alguns são implantados, alguns até ouvem muito bem com aparelho e sem leitura labial, e nossa primeira língua é a querida Língua Portuguesa, isso mesmo, essa maravilhosa língua que nos dá acima de tudo a independência de ir e vir.

Uma coisa importante que me esqueci de colocar acima, todos nós FALAMOS, há um mito em torno da surdez, a maioria dos leigos acredita (quase que uma certeza, que chega a ser assustador) que todo surdo é MUDO, não é bem assim! Como eu disse logo acima, esse post é para os LEIGOS, especialmente para meu querido Amapá.

Aqui a informação sobre a existência de surdos oralizados é precária, sempre que vou a algum lugar e conheço uma pessoa nova, esta sempre começa falando comigo em gestos, eu digo logo que sei fazer leitura labial e posso falar,antes me frustrava com isso, hoje não, sou sempre sincera. Já aconteceu de eu conhecer professores, pedagogos e chegam falando em LIBRAS comigo, mas eu não entendo, é claro, eles me olham com repulsa, eu explico, na maior educação possível.

E descobrir, graças à linda internet, navegando e pesquisando, a existência de muitos surdos oralizados, primeiro eu comecei lendo o Blog de Lak Lobato (Desculpe Não Ouvi) e depois apareceu o Blog de Paula Pfeifer (Crônicas da Surdez), e graças ao Blog de Lak Lobato eu descobrir o Blog de Só M Ramires (SULP- SURDOS USUÁRIOS DE LÍNGUA PORTUGUESA), Lak Lobato fala de sua experiência sobre ser implantada (Implante Coclear) e Paula aborda vários assuntos muito legais em torno da surdez,e Só Ramires  fala exclusivamente de um tema que mais amo, melhoria da acessibilidade para surdos que usam, em primeiro lugar, a língua portuguesa, enfim, todas falam da falta de acessibilidade para os surdos oralizados, como nós somos, experiências, aparelhos auditivos e tudo o mais  e fora o vários comentários que os blogs recebem , é claro sempre servindo de inspiração para eu dar continuidade ao meu blog vagabundo! Rsrsrs

Ser surdo oralizado, no meu ponto de vista, acredito que da maioria também, é conquistar sua independência no mundo, o prazer de falar, de conversar com todo mundo, ouvir música, de ouvir com ajuda da tecnologia 
etc.. é simplesmente cativante e viciante, todo dia é uma aventura e um orgulho. Chamo isso de ADAPTAÇÃO, e nossa adaptação na sociedade é completamente diferente de uma pessoa “normal”. Abaixo vai algumas características da nossa sobrevivência:

·         Não falamos ao telefone, porém há exceções naqueles que conseguem ouvir pelo telefone com o uso de aparelho auditivo, já eu não chego perto disso, escuto uma voz do além no telefone (Não entendo nada! RS)

·         Fazemos leitura labial, alguns fazem o uso dela para entender melhor pelo aparelho auditivo, é como eu, difícil eu entender fonemas pelo aparelho, tenho que sempre prestar atenção nos lábios.

·         Adoramos acima de tudo tecnologia, há muitos surdos oralizados com todos os tipos de grau de surdez (parcial a severa), há aquelas que nasceram surdos e são implantados desde bebês ou na adolescência ou adulto ou simplesmente fazem o uso de AASS, e utilizaram de artifícios como fonoterapia para não perder a fala, há aqueles que ficaram surdos depois de ter aprendido a falar (no meu caso, eu fiquei surda, mas não era alfabetizada), muitos aderem à tecnologia para não perder a falar e a capacidade auditiva de reconhecer sons.

Porém, sempre há uma barreira freando a melhoria da acessibilidade para surdos oralizados (falarei disso no próximo post). Bom! Espero que tenham gostando, estou meio enferrujada para escrever, mas o tempo me dará muita inspiração! heehehe

Beijos do Ouvido!

09 maio 2012

Bike adaptada para pessoas com deficiência


Eu, uma grande fã de bicicleta, não poderia deixar de colocar no meu humilde Blog sobre a importância da Bike na nossa vida, melhora o coração, polui menos, é silenciosa, fortalece joelhos, pernas e respiração, enfim é tudo de bom!

É claro, vou falar exclusivamente da bicicleta adaptada para pessoas com deficiência, para tooodas as pessoas, sem exceção! Todos já conhecem a bike normal, mas poucas pessoas conhecem os vários modelos de bicicletas adaptadas, que vai desde aquela que tem paralisia cerebral, falta de equilíbrio (pessoas que sofrem de grave labirintite), deficientes visuais, físicos e auditivos.


#PensamentododiaNoOuvidodeGabi



Agora a mania da era “facebookítica” e “twitterítica” (não me perguntem como eu inventei isso) é colocar a hastag = # (palavra que ainda nem existe no dicionário brasileiro) antes de uma frase ou palavra como ferramenta para levantar os assuntos mais comentados do Twitter.

Hoje fiquei seriamente pensando, quando algum ser vivo me irrita, ou seja, quando me trata como coitadinha, ingênua, criança, inconsequente, como se eu precisasse de alguém constantemente para fazer meus afazeres (como andar de bike, sim, infelizmente isso aconteceu semana passada) como se eu fosse uma anjinha porque sou surda (gente pelo amor de Deus, tirem essa imagem angelical sobre mim) e quando vem falar comigo em LIBRAS. Oh povo chato!

Se eu fosse dar uma resposta inconsequente em cada pessoa que me trata assim eu não teria nenhum amigo! rs. Quem me conhece profundamente sabem que sou CURTA E GROSSA, não tenho culpa, minha família tem sangue quente.

Em primeiro lugar, sou adulta, não suporto tratamento especial, não suporto quando alguém sente pena de mim por ser surda (aquelas pessoas que falam: não tenho coragem de ser sincera com a Gabi porque ela vai ficar magoada, ela tem problema no ouvido e tu já viste né?), genteeee, sou um SER HUMANO, a surdez não define meu caráter ou ainda: “Gabi não pode andar de bike sozinha porque ela não escuta e vai ser atropelada por um carro” __ CALMA AÍ MEU AMIGO!__ Não é bem assim, até um mutante que tem a melhor audição do mundo pode ser atropelado por um Mini Cooper.

Tudo que faço nessa vida como deficiente auditiva, é conseguir minha total independência, FAZER TUDO SOZINHA! Não preciso de babá ao meu lado!

Pensamento do dia No Ouvido de Gabi é o mais novo “quadro” para desabafos!
Beijos!


03 abril 2012

Proteja a audição do seu filho!



Quando vou a shows e eventos que utilizam aquelas caixas de som, média e enorme, com volume altíssimo, fico mega agoniada quando vejo crianças de 1 a 5 anos e até bebês de (de 2 a 11 meses)  no colo de seus pais (despreocupados) perto das caixas de sons, e seus filhotes ouvindo aquela barulheira e eu me pergunto: Se fosse meu filho, eu tinha dado um jeito de colocar um algodão ou algo para tampar dessa barulheira!!

Juro para vocês me dá uma aflição danada, fico imaginando que essas crianças vão ouvir aquele zumbido estridente e não entenderem o por quê disso! As mamães e papais e também os futuros pais tem que colocar no dia a dia do seu filho que proteger e cuidar da saúde auditiva é prevenir problemas futuros de audição.






02 abril 2012

Recomendo este texto bombástico: Eu não sou representada pela FENEIS. E você?

Aqui está assunto importantíssimo que considero muito ético para os leigos, Paula Pfeifer, autora do Blog Crônicas da Surdez, postou: Eu não sou representada pela FENEIS. E você? Também não, nunca fui bem acolhida pela 'Comunidade Surda' do meu estado e tampouco pela FENEIS, recomendo esta leitura bombástica!


De Paula Pfeifer do Blog Crônicas da Surdez (Postado dia 02/04/2012).


Vocês conhecem a FENEIS, certo?
Desde de sua fundação, o seu maior propósito tem sido divulgar a Libras-Língua Brasileira de Sinais. Ao longo dos anos, a Federação esteve envolvida em várias atividades como: encontros, seminários, cursos e outros trabalhos que sempre visaram esclarecer para a sociedade em geral, a importância de respeitarem a forma de comunicação da Comunidade Surda, a sua cultura e porque não dizer a sua história de evolução, enquanto minoria lingüística, que há séculos vem lutando pelo seu espaço e o reconhecimento de direitos que lhe são inerentes.
Importantes vitórias foram alcançadas com a oficialização e a regulamentação da Libras. Mas não podemos parar por aqui. Precisamos continuar lutando por uma educação de qualidade, pelo direito de acessibilidade a qualquer tipo de informação e a conquista de novas oportunidades no mercado de trabalho para os Surdos.”
FENEIS significa Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. O nome, por si só, indica que TODOS os surdos brasileiros são representados por esta instituição, o que está muito longe de ser verdade. Tempo atrás enviei email através do site perguntando o que a entidade fazia em prol dos surdos oralizados, e estou até hoje esperando a resposta.
Eu e vocês que também são surdos oralizados – que não usam LIBRAS, que usam (ou não) aparelhos auditivos e implantes cocleares, que gostam de ouvir com a ajuda da tecnologia e que não estão interessados em viver somente dentro de uma comunidade de iguais - não somos representados pela FENEIS.
Quem não se encaixa na premissa número 1 de ser um “Ser Surdo” (assim mesmo, com “S”, como se um mero caps lock fosse capaz de denotar algum tipo de superioridade), que é ser usuário de LIBRAS, não é representado por esta entidade. Como eu gosto de lidar com aVERDADE, achei pertinente escrever sobre isso. O grande público, as autoridades, a mídia e qualquer um que desconhece a heterogeneidade da surdez lê “federação nacional de surdos” e pronto: já pensa que um representante da mesma está apto a falar em nome de TODOS os surdos brasileiros. GRANDE ENGANO!
Neste post, o coordenador nacional de acessibilidade para surdos da FENEIS escreveu que:
Logo mais tarde, surgiu uma boa noticia que a Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes criou uma portaria 956 de 19 de maio deste ano exigindo a criação de uma comissão que a Secretaria coordenará e acompanhará as politicas públicas voltadas às pessoas surdas com os representantes : Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos e 3 associações de surdos de DF e Associação e ou Sindicato dos Intérpretes de LIBRAS para a participação de reunião (sic).”
Boa notícia seria se houvesse também representantes dos surdos oralizados, que também sofrem no colégio, que também gostariam de ter reforço na educação, que também precisam de acessibilidade – mas, como não usam Libras, são ‘insignificantes’ aos olhos desta entidade. O que mais me desagrada é que a FENEIS é sempre chamada para participar de reuniões com órgãos governamentais (como Anatel, Secretaria de Direitos Humanos, Secretarias de Educação, etc) e, estando lá, na categoria de representante máximo dos surdos brasileiros, representa apenas uma parte deste grupo. Me sinto muito desconfortável com isso. Muito!!!
Acho que a FENEIS deveria trocar de nome para deixar expressamente explicado que representa apenas os surdos sinalizados brasileiros. As autoridades desconhecem o assunto e acabam acatando opiniões de lideranças que NÃO estão interessadas nas demandas dos surdos oralizados. Penso que seria mais pertinente e verdadeiro usar o nome Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos Usuários de LIBRAS. Mais honesto e mais sensato, não??
Por último, não conheço nenhum surdo oralizado que concorde com essa militância por uma política que obrigue crianças surdas a crescer em guetos educacionais, só com LIBRAS, com um português absurdamente precário (e, em muitos casos, nulo). Quando vemos essas lideranças falando em escolas bilíngues nós temos plena consciência de que isso é só conversa para boi dormir. Aliás, quem fiscaliza se as escolas bilíngues realmente dão resultado e formam adultos independentes ou se são apenas fachada e na realidade o foco total é a Libras?  Muitos surdos bilíngues têm interesse em mudar essa política. E 99% dos surdos oralizados não faz parte nem da FENEIS, nem de nenhuma associação de surdos.
Não dá para compreender como a FENEIS concilia essa ênfase radical na segregação da “cultura surda” com o objetivo de “integração” dos surdos? Isso é segregação, é “separate but equal“, que de integração não tem nada…Já vimos até mesmo lideranças surdas ridicularizando surdos oralizados em grupos do Facebook, e isso é tão patético: alguém que tem a mesma deficiência que nós nos ridicularizando porque usamos aparelhos auditivos e implantes cocleares chega a ser uma piada, não?
Por último, e o mais importante: como deixar as autoridades a par de que a FENEIS representa apenas uma parcela dos surdos brasileiros?