Vou explicar aqui, que santo constrangimento foi esse.
Eu tinha acabado de sair de uma Faculdade particular aqui do meu Estado onde estava tendo um seminário sobre Biociências Forenses (isso mesmo, eu faço biologia e tenho bolsa e trabalho com entomologia forense, especialmente vespas parasitóides, claro que mais tarrrde explicarei como funciona essa área) e nós, quer dizer eu, queria porque queria passar no shopping pra ver se tinha ingresso pra assistir o filme lua nova (éee lua nova, até eu sou vítima dessa história, hauhauhau) fomos andando da faculdade até o shopping, aqui em Macapá não é muito grande, a gente agüenta andando de uma quarteirão a outro, o principal santo problema da minha grande Cidade é o calor, égua do calor brabo, pensem num calor insuportável.
Chegando lá, subimos até o terceiro andar, fomos lá, como posso descrever...aquela área que vendem ingresso, depois acho esse nome, que esqueci! Saco!
Chegando lá eu perguntei pro cara, isso mesmo eu falei (hauahuahua), ta vendo só como sou grata por falar e entender os lábios.
____ Moço, vocês ainda estão vendendo ingresso pro filme Lua nova?
____ Estamos sim.
____ Mas eu posso comprar logo agora (era uma sexta) e assistir amanhã (sábado, claro né) ?
____ Não, o ingresso só vale se comprado no mesmo dia.
Eu pensei : Mas que frescura...
____ Então, vocês vão começar a vender a partir de que horas, porque tem muita gente assistindo esse filme e não quero perder. (Mais desesperada logo!!)
____ A partir das 14:00 horas até 17:00 Horas.
____ Muito Obrigado então (Dei um sorrisão pra ele).
Nisso tudo a minha colega Val (trabalho junto comigo no laboratório de Artrópodes, também é bolsista) ela tava no meu lado, e fomos embora e passamos perto do Bob´s e chegando lá eu vi uma mesa onde tinha surdos e mudos, todos sinalizados (sabiam Libras), e entre eles tinha um professor que era ouvinte. Eu cumprimentei e conversei com esse professor.
___Oii! Tudo bemm?
___ Tudo bem e contigo?
___ To bem!
___ Você está sumida! Nunca mais foi lá (ele tava referindo que eu nunca mais apareci no centro de surdos e mudos daqui de Macapá) e depois ele me apresentou pra todos na mesa.
Eu cumprimentei e tudo, os surdos me perguntando (em libras, e eu tentando entender, rs) se eu sabia libras, e tudo, eu disse que não, que eu falava e fazia leitura labial. E pra minha incrível surpresa, esse professor meio que queria, me passar por algum constrangimento, disse:
___ Me falaram (o engraçado, é que ele insistia em falar em língua de sinais comigo e falando ao mesmo tempo, eu notei que nesse momento, eu começava a ficar meio irritada) que você não gosta de libras que não quer aprender libras.
Imaginem a minha cara de assustada, a primeira coisa que eu pensei na hora foi: quem foi o filho ************* que falou isso pra ele, ou ele ta querendo se livrar colocando culpa nos outros? No momento eu fiquei constrangida por não saber libras, ai eu disse:
___ Não, não é isso (eu sou do tipo de pessoas que quando alguém me magoa ou bagunça com minha cara não sei reagir, eu fico meio travada) isso é mentira, eu que não tenho tempo. E o cara me olhava meio torto, meio estranho, meio desconfiado....puff... masáaa!
E a Val minha colega, ela sabe libras, e ficou conversando com eles um pouco tudo em libras!
Fomos embora, eu fiquei na minha, fiquei pensando e pensando no que ele tinha me falado, fiquei analisando se a atitude dele era correta, se ele tinha esse direito de falar assim comigo. Fomos pra parada de ônibus, peguei meu busão, e eu ainda pensando no que ele tinha me falado, tava ficando magoada com isso. Desci no meu ponto e fui andando e passando na frente da escola onde minha Mãe trabalha (essa maravilhosa mulher se chama Irene) e vi que ela estava na frente conversando com os funcionários de lá, resolvi ir lá, cumprimentei todo mundo e todos me cumprimentaram e aguardei minha mãe até o término da conversa dela (um detalhe: a escola da minha mãe fica em frente a rua onde eu moro, que inda nem é asfaltada, acreditem se quiser hauahuahu). Fomos andando até nossa casa e no decorrer do nosso caminhar eu contei tudo o que tinha acontecido e minha mãe fala:
___ Masáaaaa, quem foi que te falou isso???
___ Foi aquele professor magrelo, tu lembra? Que quando a gente foi num seminário de surdos e mudos e ele ficava sempre lá na frente orientando os surdos.
____ Ah, acho que sei quem é, mas não to lembrada.
____ É, o cara de pau disse assim: Me falaram!!
____ Mas é doido mesmo! Mas quem será que foi que falaram pra ele?
_____ Eu não sei! Eu não entendi a dele, o que ele pensa que eu sou? (já tava começando a ficar puta) o povo daquele centro adoram falar de mim só pode, só porque eu falo e não sei m**** nenhuma de libras, acho que eles pensam que eu tenho vergonha de ser surda só porque nunca visito e nem frenquento lá. (Eu comecei a chorar, sou chorona de carteirinha, choro principalmente quando to com raiva e quando alguém me magoa, hauhauhua)
____ Olha minha filha, nem adianta tu ficar assim, tu sabe muito bem o que tu é, hoje tu tem tudo graças a todo o teu esforço, graças ao fato de tu falar e fazer leitura labial, se tu só soubesse libras, eu vejo assim, tu não chegaria onde tu ta hoje, tu passo na federal sozinha e não dependeu de ninguém, aprendeu na escola tudo sozinha, e eles não tem porque fazer isso contigo, te obrigar a fazer libras como se tu precisasse. Porque tu não precisa, tu tem a tua vida e se dá bem com o que aprendeu. Deixem eles pra lá, mas eu sei quem foi que falou, vou conversar com ela (mamãe acha que foi uma professora, que trabalhava com ela na escola dela) e explicar porque minha filha nunca precisou de Libras. Bom a mamãe falo bem bonito, não foi bem assim como coloquei em cima, ela falou melhor!! Eu não to bem lembrada hauhauhua, to te falando!
___ É mãe, fala mesmo com ela, e pergunta por que ela fica se metendo na minha vida, manda ela ****. Égua, eles pensam que eu tenho vergonha, que não quero aprender libras pra não ter vergonha, se eu tivesse vergonha do que sou, eu nunca andaria com ouvintes como sempre fiz, eu andaria só com surdos e mudos naquele mundinho deles fechado, eu não tenho vergonha de falar, eu vou continuar falando e só vou aprender libras quando eu quiser, quando sentir vontade.
____ Pois é, tu não pode e nunca teve deixar de falar, realmente, masá, agora eu to aqui pensando que esse cara é doido mesmo. A mamãe ficou pensativa....
___ Eles não entendem, eles acham que só porque sou surda tenho obrigação de aprender libras, tenho que fazer só amigos surdos, tenho que viver lá no centro. Eu tenho minha vida, tenho meus amigos, não tenho amigo surdos, não porque não quero, porque eu cheguei até aqui, fiz essa escolha. Não tenho nada contra libras, mas nessa vez eles passaram dos limites pro meu gosto, isso já ta demais!!
Foi assim, a nossa conversa durou a tarde toda, contei pra minha irmã Ariana, ela fico mordida, falo um monte de coisa. Disse que eu tenho que continuar fazendo o que eu sempre fiz, falar e fazer leitura labial e pronto! A gente ficou conversando uns bons minutos sobre isso. Contei pro meu namorado ( Alielton, esse menino é Maravilho) foi assim, contei pra todo mundo, quando eu fico indignada com uma coisa eu conto mesmo, eu falo e falo sobre essa situação até me cansar!
Ai me acalmei, baixei meu santo e refletir: Bom, isso quer dizer que acontece com todo mundo que é surdo oralizado, o único jeito de evitar esse constrangimento é falar sobre o assunto. E fui na comunidade de Surdos Oralizados no Orkut, e relatei o meu caso por lá, eu já tinha um blog, mas meu blog mal era conhecido (Ainda é hauhau), eu apenas queria um blog pra publicar meu poemas, ai resolvi refazer, e publicar sobre o mundo do meu ouvido (Isso mesmo, o constrangimento me levou a essa Luz). Realmente, nunca pensei em fazer um blog sobre minha surdez, ainda mais porque, eu não vivo em função dela, tudo que eu faço na vida e conquistei partiu do meu esforço e meu caráter, eu realmente ultrapassei aquela idéia que a minha surdez está presente o tempo todo, ela está, mas eu nunca me vejo como uma excluída, uma peça a menos no nosso quebra cabeça, simplesmente me vejo como uma menina que ficou surda e teve que superar todos esses obstáculos, tive que lutar pra manter a fala, pra acreditar que um fato limitante físico não atrapalha nossa vida, que vivemos muito bem com um membro a menos no nosso corpo, no meu caso, o meu ouvido.
Sim, eu já tive meus momentos de solidão, porque deixei minha surdez me abalar, isso foi na minha adolescência e contarei tudo aqui como isso aconteceu e porque aconteceu.
Finalizando: O professor foi anti-ético (será que na nossa nova gramática anti-ético é junto ou separado? Vou já, já estudar logo essa nova gramática hahauahua), como professor, ele deveria estudar mais sobre a diversidade dentro da deficiência, existe vários tipos de surdos, cada um com sua escolha, há o surdo e mudo sinalizado, há o surdo bilíngüe (que sabe libras e é oralizado), há o meu tipo, sou oralizada e não sei Libras e há muitos outros que vocês nem imaginam, que vou já, já, colocar por aqui.
Gente! Ainda tenho muitas histórias viu?? Até mais!
4 Comente!:
amiga, é isso ai! Sabe lá quantas pessoas já não passaram pela mesma situação que vc?
Amei o teu jeito de escrever, tá bem Gabi!
Mas e num éee amigaaa hauhauahua
Obrigada pelo elogio, ainda vo melhorar muitooo hauhauahua
Você não poderia contar que, talvez por ironia do destino, aquele "professor magrelo" pudesse estar neste exato momento lendo o seu blog certo?
...
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Uma brincadeira meio sem graça, pois não sou aquele professor!
Queria te falar que de uma forma concordo com o seu ponto de vista, ele quem foi o desinformado da história, afinal a sua "limitação física" não te limitou à libras, certo?
Você foi além pelo seu esforço e o espírito que Deus lhe deu, que não são limitados!
Parabéns!
Vou estar por aqui com frequência ok?
Oee anônimo! Me mata de susto! hauhauahuahua
Sabe, pensando bem, eu não consegui segurar a palavra magrelo, sei que meio abusado mas....hauahuahaua
Temos q nos expressar num é:??
obrigada por ler meu Blog!! Mil abraços!
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